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Entre todas as perdas econômicas que os casos de mastite clínica causam em uma propriedade leiteira, a queda na eficiência reprodutiva das vacas pode ser uma das maiores.

Podemos associar casos de mastite clínica (MC) e subclínica (MSC) a possíveis problemas reprodutivos nas vacas, visto que diversos estudos mostram que casos de MC podem reduzir a taxa de concepção nos animais. Eles também podem apresentar um período mais longos entre o parto e a primeira inseminação artificial (IA), assim como maior possibilidades de abortos, por exemplo.  Ademais, vacas com CCS maior que 200.000 cel/ml podem diminuir em até 10% as gestações por IA em comparação com animais sem mastite.

 

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Episódio 10 – Casos de mastite clínica em vacas leiteiras podem afetar os índices reprodutivos?

 

Mastite clínica e índices reprodutivos: um estudo da UNESP

Um estudo publicado no Journal of Dairy Science por Dalanezi e colaboradores, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), investigou o efeito que a MC  pode ter nas variáveis reprodutivas de vacas leiteiras.

O estudo analisou cinco rebanhos leiteiros com pelo menos 200 vacas em lactação cada e programa de controle de mastite, produção de leite média de 30 kg/vaca/dia e CCS inferior a 400.00 cel/ml de leite. Pesquisadores monitoraram as fazendas por 24 meses e coletaram as amostras de leite e casos de mastite clínica de cada quarto mamário com alteração visual do leite, de forma asséptica, para avaliar no laboratório. Os cientistas avaliaram todos os casos de MC, do pós-parto ao diagnóstico da próxima gestação.

 

A pesquisa classificou as vacas de três formas:

  1. De acordo com a coloração de Gram – Gram positivo: mastites causadas por Staphylococcus aureus, Staphylococcus não aureus (SNA), Streptococcus agalactiae, Streptococcus dysgalactiae e Streptococcus uberis; Gram negativo: mastites causadas por Escherichia coli e Klebisella spp.
  2. De acordo com o grupo de patógenos – Patógenos principais: Stapylococcus aureus, Streptococcus agalactiae, Streptococcus dysgalactiae, Streptococcus uberis, Mycoplasma spp., Escherichia coli e Klebisella spp.; Patógenos menores: SNA e Corynebacterium spp.
  3. Vacas controle negativo – não apresentaram casos de MC; então, os pesquisadores realizaram duas coletas de leite, após 60 dias em lactação e após 60 dias de gestação.

Os cientistas realizaram a cultura microbiológica a partir das amostras previamente coletadas e refrigeradas. Foram inoculadas em meio de cultura ágar sangue e ágar MacConkey, incubados a 37°C por 72 horas e observados o crescimento a cada 24 horas. Os isolados considerados com crescimento positivo, apresentando 3 colônias ou mais com as mesmas características, foram identificados de acordo com a morfologia da bactéria, coloração de Gram e testes bioquímicos. Já o isolamento para Mycoplasma spp. foi realizado em meio de cultura específico e em condições adequadas, observados a cada 2 dias até o dia 15.

Com relação aos índices reprodutivos, os pesquisadores avaliaram:

Um monitor de atividade automatizado monitorou as vacas a partir de 60 dias em lactação para avaliar a movimentação e a detecção de estro. Vacas que apresentaram características de estro foram examinadas para confirmação e, então, inseminadas artificialmente.

 

Resultados encontrados

As vacas do grupo controle, que não apresentaram casos de MC, tiveram taxa de concepção maiores na primeira IA; por outro lado, foi encontrada a menor taxa para animais que apresentaram casos de mastite clínica causados por patógenos Gram-negativos (Escherichia coli e Klebisella spp),

Os abortos foram maiores nos grupos de animais que apresentaram casos de MC causados pelo patógenos Gram-negativos, mas também pelo grupo de patógenos principais. O restante dos patógenos Gram-positivos não apresentou diferença entre o grupo controle. As vacas do grupo controle tiveram dias em aberto significativamente menores; no entanto, as vacas que apresentaram casos de MC causados por patógenos Gram-negativos tiveram mais dias em abertos em relação a outros grupos.

Vacas com diagnóstico de MC tiveram diminuição das taxas de concepção na primeira IA, aumento de abortos e de dias em aberto. Sendo assim, foi possível identificar também que os animais infectados por os patógenos considerados principais (Stapylococcus aureus, Streptococcus agalactiae, Streptococcus dysgalactiae, Streptococcus uberis, Mycoplasma spp., Escherichia coli e Klebisella spp.) tiveram perdas nos seu desempenho reprodutivo de forma mais significativa.

Em conclusão, podemos associar os casos de perda reprodutiva aos casos de MC de acordo com o patógeno causador da infecção. Trazemos novamente a importância da cultura microbiológica, que podemos realizar de forma rápida e eficaz na fazenda para conhecermos qual patógeno causa os problemas de mastite. Conhecê-los não somente para determinar o melhor tratamento, mas para compreender a origem dos mesmos e assim conseguir melhorar os manejos, a higiene, evitando novas possíveis infecções e consequentemente perdas reprodutivas.

Fonte: Dalanezi, F.M.; Joaquim, S.F.; Guimarães, F.F.; Guerra, S.T.; Lopes, B.C.; Schimidt, E.M.S.; Cerri, R.L.A.; Langoni, H. Influence of pathogens causing clinical mastitis on reproductive variables of dairy cows. Journal of Dairy Science, v. 103, 2020.
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